Tiro perdido
Uma coroa de flores.
Um lenço, um choro e um adeus.
Com ela deitada inerte, sem vida, sem olhar ou responder aos
lamentos, vão-se os projetos para uma vida inteira. Pelo menos para ela.
Planos que se cumpririam durante sua vida. Ela ali, sem mais
respirar, gelando, endurecendo e apodrecendo pouco a pouco.
Ele, numa abrupta interrupção do respirar tranquilo. Mãos
frias, pressão baixa, corpo amolecido e fraco, prestes a desfalecer pela dor.
Ofegante, chora incessantemente. Não há consolo, não há
conforto, nenhum abraço de carinho lhe basta.
As recordações dos dias vividos, as emoções do romance
intenso. Os beijos, abraços, carinhos, e até as brigas eventuais farão falta.
Em um lugar qualquer, o causador de tudo.
Tiro perdido na multidão, uma caça aos inocentes, uma arma
nas mãos que facilitou o fim do sonho de um casal.
Era um dia perfeito de grandes comemorações pela notícia da
gravidez tão esperada após doze anos de casamento. Desde cedo os cuidados foram
redobrados. Ela carregava seu herdeiro, os paparicos pareceriam poucos.
Sempre? Como, sempre?
Ela saiu ao portão para receber a encomenda e mal conseguiu
assinar o protocolo. Um tiro perdido de um confronto desatinado, jovens
enlouquecidos pelo vício, sem razões reais, apenas o ócio e bandidagem.
O tiro passou de raspão no entregador, mas acertou a moça
fatalmente. Ouvindo o barulho ele corre de dentro de casa até a amada, mas já a
encontra sem vida.
E, agora, o "sempre" acabou...
Destaque Literário - categoria conta - ALPAS SÉCULO XXI
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