segunda-feira, maio 02, 2011

Vinícius Cassiolato > Desabafo do poeta

Desabafo do poeta




Do mundo surreal
Direto à arte sensível!                                                                                      
Em tão pouco tempo
Saltei em meio à linha do espaço.
Saltei tão grandiosamente,
Que pousei um passo ao lado!

Permiti que a minha sensibilidade
Ultrapassasse barreiras e gerações!
Mas será que ainda permito?
Ou ainda conseguirei seguir assim?
Enquanto ouço vários aplausos,
Sinto milhões de olhares nefastos!
Singelos, porém, nefastos.

Olhares que não se permitem.
Quem são eles?
Mercúrios enviados por Júpiter?
Mefistófeles encarnado?
Ou serão faces minhas que vejo diante do espelho?

Vejo o quão sistemático e enquadrado se tornaram!
Chega a ser horrendo tal visão.
Seres que deveriam
(por profissão)
Amar suas páreas incondicionalmente!
Tratam-nos com desprezo, preconceito.
Seres cristalizados em épocas restritas
E valores egoístas!

Um ou outro se salva,
Mas e o resto?
Como conseguem criar
E ao mesmo tempo serem Destruidores?
Eles se fecham em círculos.
Círculos de simetria perfeita, intacta.
Olham apenas para dentro,
Não se  atrevem a observar o horizonte.
Para onde caminham?
Será que um dia conseguiremos admirar a outra face?

Nem sinto mais desprezo,
Apenas sinto!
E é tão infame,
Que nem sei o que é!
São capazes de descrever com maestria
O bailar de uma singela borboleta.
Porém, jamais tentam fazer o mesmo com aqueles que estão fora do círculo.
É estranho!

Amam... Mas condenam os diferentes... Os de fora...
Escrevem... Mas distorcem as semelhanças...
A única dádiva que temos é a de viver!
Então para que se fechar?
Negar o ombro experiente?

Entreguemo-nos à loucura.
Ao gozo de viver da paixão.
Seja pelo que for.
Devemos ao menos tentar.

Aos poucos,
Perecerão, um a um.
E a quem cederão o lugar?
Se não aos loucos de hoje?
Loucos que vivem fazendo valer a pena.

Mas não entenda louco
Como crítica ou depravação.
Muito pelo contrário!
Os loucos na verdade
São os que mais têm sanidade!
Amam, vivem, odeiam,
Mas são eles mesmos, são sinceros, sem máscaras...
Do jeito deles...
Não se predem ao simples material.

Prefiro os loucos, aos normais.
Não são marionetes inorgânicas.
São apenas humanos.
Entregues à arte de viver.
Vivem, amam, vivem...
Mesmo que os prendam, ou os matem.
Eles vivem!
Fora de círculos, livres de autodegradação.

Será que um dia eles acordarão?
Acabarei como eles?
Tenho medo de tal pesadelo.
De tal perdição.

O manto da Razão tenta impiedosamente
Lançar-se sobre mim.
Mas os ventos que trazem a nudez de Vênus
Exercem maior fascínio.
Que delicioso vento a loucura proporciona.

Vinicius Cassiolato

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