segunda-feira, agosto 01, 2011

Bohemia III

Boêmia III

Sinto-me embriagado!
Pisando em nuvens
(Como diria certos filósofos)
Inspirado pelo frio conhecido
Vago madrugadas adentro
Delirando com musicas perdidas!


Permito devaneios intensos,
Lavando minhas mágoas,
Afogando meus sentidos, sentimentos,
Encharcando esses dedos que escrevem.

Abrace meu espírito,
Um pouco de carinho,
Perdido estou na insanidade mundana!
Esquecido de lembrar.
Parido nas circunstâncias da subsistência?
Sei lá! Deixa.
Eu sou livre.

Mas o que faço com essa liberdade?
Sou livre!
Para escolher o emprego?
Sou livre!
Para fingir amar o sexo oposto?
Sou livre!
Para passar um por um os canais de televisão?
Sou livre!
Para comprar o que a moda manda?
Sou livre!
Para engolir leis antiquadas?

Sim, eu sou livre!
Tenho uma vida liberta de repressão.
Tenho minha família.
Tenho meu emprego.
Tenho minha casa.
Tenho meu carro.
Tenho meu celular.
Tenho, tenho, tenho...
Tenho a liberdade de ser consumista.

Possuo o livre-arbítrio de ser igual aos outros.
Possuo o “ter” dogmático da religião.
Tenho meus santos e meus dizimo.
Tenho meu lugar no céu.

Sou livre!
Para ouvir músicas estúpidas,
Para engolir notícias deturpadas,
Para seguir cegamente a moralidade infame...

Ter amigos, ter casamento,
Para ser uma parte do nada,
Para ser enterrado e esquecido,
Para estranhar estranhos,
Para viver, para o trabalho!

Sou livre!
Dentro da servidão comercializada,
Dentro de um sistema censurado,
Dentro da arte do vazio!
Eu, homem, ser humano?

Sou livre!
Para não ter tempo,
Para fazer cursos profissionalizantes,
Para não pensar na vida,
Para prestar vestibular,
Para não falar do tempo,
Para ser morto na esquina!

Entendam, todos vocês,
Eu sou um ser livre!

Para odiar o ser pensante
Para dormir e comer
Para ter conforto e dignidade
Para ser o “Para”...

E você?
Que cruza a esquina!
Que corre para não perder o emprego!
Que finge ter conhecimento!
Que é o que não é!
Que faz o que não gosta!
Que procria insensatamente!
Que cria operários!
Que aspira lixo!
Que consome “malhação”!
Que dorme em lençóis ensangüentados!
Que vira o modelo de beleza!
Que não vive!
Que morre a cada dia!
Que não faz a sua história!
E você meu caro!!!

É livre?
Talvez todos vocês riam com isso,
Ou ainda resmunguem de raiva.
Mas eu só quero saber,
É livre?
De toda repressão antes vivida.
É livre?
De todo ar poluído por você.
É livre?
Para pensar o que você não pensa.

Quem é você?
Já parou para imaginar toda essa melancolia?
Homem? Mulher? Ambos?
Pode chamar-me de bêbado,
Eu não ligo!

É, mas acho que você ligaria...
Ligaria para a polícia,
Para o sanatório,
Para seu Deus!
Invocaria tudo para não ouvir isso.

Estou certo?
Não?
Tudo bem, não ligo.
Eu sou livre!
Vou voltar para minha bebida...



Vinicius Cassiolato

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