sexta-feira, março 11, 2011

CRIANÇA DE RUA

Caminho nas ruas causticantes,
com cabelos desalinhados,
dentes amarelados e verde de fome.
Meu estômago chora.
Meus olhos sequer detêm lágrimas,
porque já secaram à procura de alguém.
Alguém que justificasse este mundo,
para que eu entendesse tamanho sofrimento.
Não sou fraca, nem destemida,
nem joia rara, nem lixo urbano.
Nasci de uma barriga desalmada,
e nunca fui amada...
Meus pés estão roxos de frio,
meu corpo pequeno e ainda fraco,
treme, treme e geme de dor.
Não sei se é dor física,
ou falta de calor.
Só sei que vou partir,
sem saber de onde vim.
Não tenho de quem me despedir,
nem quem se importe comigo.
Encolhida na parede deste mundo tão grande,
minhas forças se perdem.
Quanta vontade eu tive de viver,
e quanto sonhei em te conhecer.
Mas as ruas são ingratas,
O frio e a fome,
são mãos que apertam sem abraçar.
Nunca senti calor humano,
e ainda me chamam de desumana.
Nem sei o que te falar.
Sou uma criança excluída,
sem ter um lar para morar.
Tenho um sentimento profundo,
porque este mundo também é o meu mundo,
mas para mim não sobrou lugar,
nem para viver e
nem para aprender a amar.


de Silvia Trevisani

2 comentários:

Rosana Montero Cappi disse...

Querida Silvinha
Como é triste a sina dos excluídos, mas como você tão bem disse o mundo deles também é o nosso mundo.A essência deles é igual a nossa, apenas o destino ditou a exclusão e solidão.
O coração da poesita ficou tocado, é misecordioso e se envolve, se comove e pode orar para que tão cruel destino seja mudado.
Beijos
Rosana

DALVA SAUDO disse...

Silvia:

Parabéns pela realista poesia! Obrigada por aceitar o convite para este blog coletivo dos artistas de Campinas! Você, a Rosana e Augusta estão enriquecendo-o! O nome de vocês como colunistas já estão do lado direito do blog. Para mim foi um presente sua presença poética! Fique à vontade para postar quando quiser. Você já pertence efetivamente à esta coletânea!